Transtornos psíquicos são causa crescente de afastamento do trabalho
MARINGÁ/PR - Dados da agência da Previdência Social de Maringá, cidade do Noroeste do Paraná, em 2013, mais profissionais foram afastados do trabalho por transtornos mentais do que no ano passado. O levantamento identifica aumento de 14,6% no número de afastamentos do trabalho por depressão e transtornos mentais registrados esse ano, relativamente a igual período de 2012. Entre janeiro e novembro de 2013, foram concedidos 510 auxílios-doença, contra 445 em 2012. A estatística serve de alerta para a ocorrência cada vez mais frequente de doenças dessa natureza.
Transtornos mentais, como estresse e depressão, afastam do trabalho mais de 200 mil pessoas por ano no Brasil, segundo dados do INSS. Só em 2012, os gastos com auxílio-doença e aposentadoria ultrapassaram R$ 4 bilhões. Dos transtornos psiquiátricos, a depressão e a ansiedade são a principal causa de afastamento do trabalho. A Associação Brasileira de Psiquiatria coloca tais causas no segundo lugar no ranking geral de afastamentos, só atrás das Lesões por Esforço Repetitivo (LER).
Psiquiatras apontam as causas do afastamento do trabalho em razão de motivos diversos, desde eventual sedação pelo ajuste de uma nova medicação, até pela própria incapacidade gerada pelo próprio transtorno, notada na falta de iniciativa em estado de depressão ou privação do senso crítico em surto maníaco.
ESTRESSOR NEM SEMPRE ESTÁ NA ORIGEM - O histórico ou tendência depressiva pode ter como estressor um contexto de trabalho, mas a origem do transtorno está na estrutura psíquica e neuroquímica do indivíduo. Há obviamente ambientes de trabalho que produzem transtorno psíquicos por condições extremas como ações militares, isolamento em plataformas de petróleo e exploração de minas, por exemplo.
Um paciente com diagnóstico de transtorno mental pode exercer sua atividade profissional, desde que não haja condição de excessiva sedação ou transitório efeito colateral intolerável.
O aumento de pacientes afastados do trabalho por motivos psíquicos podem ser explicados por uma complexidade de fatores comuns a nossos tempos. A busca pelo seguro social cresce na proporção do crescimento do índice de problemas mentais na população.
Nove em cada 100 brasileiros sofrem de depressão, já somando 17 milhões de pessoas, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMC). A depressão pode estar relacionada à questões pessoais como com a organização do trabalho, dependendo do encadeamento de fatores, como metas acima da capacidade do profissional, superação de limites e convívio com exigências além do possível.
Principal causa dos afastamentos, a depressão pode ser considerada um sinal de alerta para algo que não está bem na vida pessoal ou profissional. Entre os sintomas mais comuns, estão perda de interesse pelas coisas da vida e por pessoas e atividades, assim como baixa autoestima, autoacusações, agressividade contra si, desânimo e apatia, perda da capacidade de amar, abatimento ou desânimo.
CULTURA DA FELICIDADE - No entanto, depressão não pode ser confundida com um estado de tristeza, que pode ser momentânea. A sociedade cria um falso ambiente de felicidade permanente, não tolerando episódios de tristeza e dor. A cultura atual exige pessoas que estejam sempre felizes e pró-ativas.
Contudo, o processo de tristeza e frustração é normal, devendo ser encarado com normalidade dentro de um processo de amadurecimento e desenvolvimento pessoal. Sinal do psiquismo de que algo não vai bem, diante de uma situação adversa, a depressão é uma doença perigosa, que pode levar o indivíduo a se machucar e até se matar, exigindo cuidados. Quando ocorre frustração no trabalho, é normal que a pessoa enfrente um período de tristeza e o aparelho psíquico adquira novos recursos para evoluir.
Renato Ilha, jornalista (MTE 10.300)