ARTIGO: Repensando o papel das centrais sindicais na defesa dos direitos dos trabalhadores
Cordiais cumprimentos,
Quero externar minha tristeza por não ter tido êxito em sensibilizar nossas lideranças no enfrentamento contundente frente à iminente retirada de direitos trabalhistas. Não estou aqui para eximir ninguém de suas responsabilidades, nem as minhas próprias. Se nossos dirigentes superiores optaram pelo discurso retórico de reformas, nós fomos lenientes e aceitamos passivamente esta situação.
Bem antes do “Ocupa Brasília (24/05/2017)”, em conversas com algumas de nossas estrelas, sempre obtive resposta negativa. Uns diziam que não tínhamos poder de mobilização, outros que não adiantaria realizar um movimento de massa. Um terceiro teve a audácia de dizer que era jogar dinheiro fora.
Pois bem, quem esteve em Brasília naquele dia sabe que poderíamos ter escrito uma página da história em favor da classe trabalhadora. Sinceramente, não senti engajamento das cúpulas das centrais, de nenhuma delas, principalmente da nossa UGT. No local tivemos uma estrutura pífia que não serviu para as necessidades básicas dos manifestantes que até ali se deslocaram, após horas de viajem de ônibus.
Éramos um exército de mais de 150 mil esfarrapados, mas tínhamos um ideal, e apesar da covardia do aparato policial e da apatia dos que estavam no comando do movimento, resistimos e mostramos que poderiam pintar o quadro com outros tons.
A polícia provocou insistentemente para que a mídia pudesse transformar o movimento em vandalismo. Pois bem, não foi vandalismo que ocorreu de fato. Tivemos companheiros alvejados por munição letal, bombas de gás lacrimogêneo vencidas lançadas sem trégua, culminando com o lançamento de bombas por meio de quatro helicópteros que sitiaram os manifestantes; Mas, nem os olhos ardendo e a respiração dificultada fizeram com que arredássemos o pé.
O receio deles era que avançássemos até o Congresso e uma guerra civil fosse deflagrada. Quem esteve lá pode testemunhar os fatos, erramos ao aceitar a imposição do governo e não lutamos pelos nossos representados.
Agora é chegada hora de lambermos as feridas e acreditar que nossos dirigentes superiores agiram de boa-fé, pelo bem do País, e foram persuadidos a não provocar uma grande manifestação em favor da manutenção dos direitos trabalhistas.
Que sirva de lição para futuras batalhas. E se nos arrogamos defensores da classe trabalhadora temos que ter a convicção de que não podemos confiar em governos, em nenhum governo. Nosso partido tem que ser o trabalhador e a expectativa de auferir benefícios por meio dos poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário é mera ilusão.
O fato é que não sabemos jogar o jogo do poder, perdemos representatividade dentro das casas legislativas, se é que já tivemos alguma. Temos que fazer uma autocrítica e retornar as nossas bases como o filho pródigo retornou à casa do pai.
Vamos nos afastar da promessa de que o governo vai editar uma Medida Provisória corrigindo erros do texto da lei aprovada. Esta possibilidade, se existir, é para ser ainda mais nefasta aos trabalhadores e às entidades sindicais.
O sistema confederativo, com a repartição e arrecadação compulsória da contribuição sindical, faz parte do passado. Vamos nos reinventar, vamos construir algo novo, vamos consolidar os direitos por meio da luta de classe, voltemo-nos ao chão da fábrica, vamos sentir o que realmente o trabalhador precisa.
Deixemos de lado nossa altivez de saber o que é melhor para os trabalhadores. Não somos seres iluminados que, como regentes de uma orquestra, manipulamos os músicos; e estes, as notas musicais. Não somos detentores da verdade real e muito menos senhores do destino da classe trabalhadora. No máximo somos seres humanos falíveis que, muitas vezes, jogam no interesse próprio.
Não tenho a pretensão de estar certo ou errado, mas, tenho a convicção de que temos que fazer alguma coisa de concreto para reestabelecer o diálogo com a sociedade e, principalmente, com os trabalhadores.
Leonardo Vitor S. C. Vale - Diretor de Assuntos Jurídicos/UGT.