Minas perdeu 1.700 empresas com mais de um sócio em 2016
Empresas que vendem bens e serviços estão na ponta da cadeia e sofrem com queda no consumo
O número de sociedades limitadas, empresas com mais de um sócio, caiu em Minas Gerais no ano passado. Ou seja, fecharam mais empresas com esse perfil do que abriram em 2016, segundo dados da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg). O saldo foi negativo em cerca de 1.700 sociedades limitadas. Nos últimos dois anos, esse saldo havia sido positivo, sendo de 11.140 novas sociedades em 2014 e 6.473 em 2015.
“A queda de abertura de empresas e o aumento de fechamentos no ano passado é, sim, um reflexo da crise. Empresas comerciais, que vendem bens ou serviços, estão na ponta da cadeia produtiva e sofrem diretamente os efeitos da deterioração dos indicadores econômicos”, avalia o economista da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomercio-MG), Guilherme Almeida.
Entre os outros tipos de empresa, houve queda também no número de empresários individuais no ano passado. Nessa modalidade, uma pessoa física abre a empresa, não pode ter sócio e responde com o patrimônio pelas dívidas da empresa. Em 2016, o saldo de empresários individuais ficou negativo em 793 empresas, segundo a Junta Comercial.
O empresário individual é diferente do microempreendedor individual (MEI), que teve, segundo o Sebrae Minas, um aumento significativo em 2016 com crescimento de mais de 109 mil cadastros no portal do empreendedor MEI do governo federal na comparação entre dezembro de 2016 e o mesmo mês do ano anterior. No último dia de 2016, Minas Gerais tinha 729.746 MEIs, contra 620.101 na mesma data de 2015. O país fechou o ano passado com 6,64 milhões de MEIs. Os números crescentes refletem a busca no empreendedorismo de uma fonte de renda frente o desemprego.
“Muitas das pequenas e médias empresas do Estado são de pessoas que empreenderam por necessidade, e acabam fechando as portas porque não têm capital de giro para suportar uma crise tão longa como a que estamos enfrentando”, observa Almeida, que vê na duração da crise um dos motivos para o fechamento das sociedades limitadas. Para o economista, a crise vem de meados de 2014 e se estende até os dias de hoje. “Para o comércio, o pior da crise chegou em meados de 2015, com o aumento do desemprego. Porque além da pessoa que perde o emprego, o índice afeta a confiança do consumidor, mesmo se ele tiver empregado”, avalia.
Totalidade. No total, Minas Gerais teve um saldo positivo de abertura de empresas registradas na Jucemg em 2016. Considerando sociedade anônima, cooperativa, empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli) e outras modalidades, foram abertas 3.352 empresas no Estado. Um número bem menor do que em anos passados. Em 2015, esse saldo foi de 14.850 e, em 2014, de 22.732 empresas.
Algumas empresas tradicionais que fecharam as portas em 2016:
Café La Place. Localizado no bairro Funcionários, o café fechou em agosto de 2016, após 20 anos de funcionamento no mesmo local.
Bendita Gula. A lanchonete encerrou as atividades em dezembro do ano passado depois de 30 anos atuando na capital mineira.
Livraria Status. Funcionou por mais de 40 anos na Savassi e fechou as portas em fevereiro de 2016.
Livraria Van Damme. Loja fechou no último dia de 2016 e tinha 45 anos de existência.
SERASA
Recuperações judiciais batem recorde em 2016
Mais um reflexo da crise, o número de recuperações judiciais em 2016 foi o maior em uma década, batendo recorde, de acordo com pesquisa divulgada nessa terça-feira (3) pela Serasa Experian. Em 2016, foram registrados 1.863 requerimentos, o maior volume desde 2006, após a entrada em vigor da Nova Lei de Falências.
O ano passado também acumulou o maior número de falências dos últimos quatro anos. A alta foi de 3,9% nos pedidos de falência frente 2015, e chegou a 1.852 casos. Destes, 994 foram de micro e pequenas empresas, 426 de médias e 432 de grandes, segundo o estudo.
Para a advogada Juliana Amaral Sardinha, especialista em Direito da Economia e da Empresa, os números, além da crise, refletem uma demora dos empresários brasileiros de utilizarem a recuperação judicial. “O empresário não deve esperar o último momento para buscar a recuperação, porque isso dificulta que o mecanismo funcione”, avalia Sardinha. Ela estima que apenas 1% das empresas que recorrem a esse mecanismo obtém êxito no processo. “A recuperação judicial existe para dar um fôlego a empresa sair da crise, mas ela precisa ter condições de voltar a faturar”, explica.
Queda. Segundo a Serasa, houve queda de 18,8% nos pedidos de falências em dezembro frente novembro. Já frente a dezembro de 2015, houve alta de 3,9% no último mês de 2016.
Fonte: http://www.otempo.com.br/capa/economia/minas-perdeu-1-700-empresas-com-mais-de-um-s%C3%B3cio-em-2016-1.1418761