Redução da jornada de trabalho e atraso nos pagamentos engrossam endividamento
Não há nada tão ruim que não possa piorar. Com a taxa de desemprego nas alturas, que já ultrapassou a casa dos 11%, os trabalhadores assistem a uma corrosão no contracheque. Considerando-se apenas o primeiro semestre deste ano, 186 acordos coletivos feitos no país tiveram redução salarial acompanhada de diminuição da jornada.
Desses, somente 77, bem menos da metade do total dos tratos, foram apoiados pelo Programa de Proteção ao Emprego (PPE), projeto do governo federal lançado em 2015 para preservar vagas.
Levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas (Fipe) mostra que mais de um terço das negociações salariais feitas em julho, no Brasil, resultou em reajustes abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação.
Aperto
Como se não bastasse, a crise também tem levado as empresas a atrasar o pagamento dos salários dos funcionários, aumentando o sufoco do trabalhador para pagar as contas em dia e fechar no azul.
Levantamento realizado pela Recovery, empresa especializada em gestão e administração de créditos em atraso, aponta que, no primeiro semestre deste ano, o desemprego e o atraso de salários foram a causa de 49% dos endividamentos dos consumidores. Nos seis primeiros meses de 2015, o principal fator era o descontrole financeiro que sozinho respondia por 66% do total.
Com a crise econômica pressionando o orçamento das famílias, o atraso dos salários ganhou lugar de destaque no ranking, passando a ser o segundo maior causador de inadimplência.
A mediana dos ajustes salariais com vigência em julho ficou em 9,5%, igual à inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), acumulada nos 12 meses anteriores, conforme o levantamento da Fipe
salto foi de 3%, no primeiro semestre de 2015, para 26%, de janeiro a junho de 2016. A desorganização das finanças ainda é responsável por 44% das contas não pagas. Os dados consideram as respostas de 25 mil consumidores.
Adaptação.
“Desemprego e atrasos de salário estão pressionando as famílias e gerando endividamento. Esse novo cenário tem exigido uma adaptação do setor de cobrança, exigindo negociações personalizadas à nova realidade”, explica o diretor de Cobrança da Recovery, André Calabró.
Para o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, o fundo do poço no mercado de trabalho ainda não chegou. “No ano passado, o PIB fechou em queda de 3,5%. Somada à retração que se espera para este ano, o país vai terá acumulado de quase 7% negativo. E mesmo que a economia pare de encolher, abre a perspectiva de emprego. Então mais gente volta a procurar vaga, engrossando a fila do desemprego”.
De acordo com Salvato, é provável que antes de uma retomada o país ainda tenha uma taxa de desemprego ainda mais elevada do que a atual.
Fonte: Jornal Hoje em Dia - 24/08/16