Crise não atinge a todos na mesma proporção e há setores econômicos se aproveitando do momento para demitir e aumentar lucros
Essa foi uma das conclusões a que chegaram os participantes da audiência pública realizada na tarde dessa terça-feira, 07/06, pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Solicitada pelo presidente da Comissão, deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB), o objetivo foi debater a atual situação do setor metalúrgico no Estado, mas foi feita também uma análise da conjuntura econômica do país e o crescente nível de desemprego que afeta as mais diversas categorias. Estiveram presentes dirigentes de centrais sindicais UGT-MG, CUT, CTB, Força Sindical, CSP Conlutas. A UGT-MG esteve representada pelo diretor Luiz Adriano Teodoro, o Luft.
Demissão x aumento de produção
Coube ao pesquisador do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), Gustavo Machado, fazer a pergunta: “Quem está pagando por essa crise?” E ele mesmo respondeu: “A conta não é igual para todos”.
De acordo com Gustavo, a despeito da crise vários setores da economia aumentaram sua produtividade e suas margens de lucro, à custa do sacrifício imposto aos trabalhadores. “As empresas demitem, principalmente os funcionários antigos e com melhores salários, e exigem dos que ficam uma produtividade muito maior”, declarou.
Como exemplo, o pesquisador citou que a Vale demitiu, em 2015, mais de 10 mil funcionários, dentro e fora do Brasil, e bateu recorde de produção em relação ao ano anterior, com mais de 340 milhões de toneladas de minério de ferro. Em 2014 a indústria automobilística demitiu 30 mil trabalhadores, mas conseguiu manter um de seus mais altos índices de produtividade. Em média, cada trabalhador produz, por ano, 25 veículos. Da mesma forma, no setor de autopeças exige-se, cada vez mais, um alto nível de produtividade.
A CSN conseguiu chegar ao custo de produção de minério de ferro mais baixo da história, também à custa do aumento da exploração do trabalhador. “As demissões servem para as empresas aumentarem a intensidade do trabalho. É a mesma produtividade, porém, com um número cada vez menor de trabalhadores. Ao fim da crise, as empresas saem fortalecidas e os trabalhadores com os direitos e as condições de trabalho precarizados”, alertou Gustavo.
O pesquisador do Ilaese falou também sobre o crescente processo de desindustrialização que se verifica no Brasil, e que teria começado na década de 1970. Naquela época, a participação da indústria no PIB era de 30% e hoje é de menos de 10%.
Vigilância redobrada
O auditor fiscal do Ministério do Trabalho, Mário Parreiras de Farias, também alertou para o fato de que precarização das relações de trabalho em períodos de crise. “As empresas não abrem mão do lucro, mas demitem, aumentam o volume de trabalho e pressionam os que ficam a produzir cada vez mais”, afirmou, ao ressaltar que as consequências são o aumento do número de acidentes e de adoecimento, com reflexos em toda a cadeia produtiva. “É uma situação que implica em maior vigilância”, comparou.
Demissões no setor metalúrgico
O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fernando Ferreira Duarte, destacou que há alguns anos vem se observando a desaceleração do nível econômico, que passou a se intensificar em 2013, com queda muito expressiva a partir do último trimestre de 2015.
O que preocupa, segundo ele, é o ritmo acelerado na perda de postos de trabalho. No final de 2014 a taxa de desemprego da população economicamente ativa era de 6,5%; e em um ano e quatro meses esse percentual quase dobrou, passando para 11,2%.
Fernando afirma que o setor industrial, com destaque para o metalúrgico, foi um dos primeiros a ser afetado pela crise. De 2013 a 2016 o segmento metalúrgico eliminou 400 mil empregos celetistas no Brasil e 55 mil em Minas Gerais. “Esse é um fator que preocupa, porque do ponto de vista de valor agregado é importante para a geração de renda no Estado e no Brasil”, destacou.
De acordo com o supervisor do Dieese, o Brasil seguiu um caminho inverso ao dos demais países, inicialmente, com um enfrentamento positivo da crise internacional de 2008. Enquanto, por exemplo, Portugal e Grécia experimentaram taxas de desemprego estratosféricas, de até 20%, o Brasil manteve-se de certa forma estável. A partir de 2013 o cenário internacional se inverteu, com reversão do desemprego na Europa, Estados Unidos e América Latina, enquanto nosso país ampliou sua população desempregada.
Fernando chamou a atenção para o fato de algumas comunidades serem altamente dependentes das indústrias situadas em suas regiões, causando uma situação dramática com a redução ou paralisação de suas atividades. Como exemplo ele citou a região do Vale do Aço. “É importante pensarmos soluções para reverter o quadro e atenuar o sofrimento de tantas famílias”, declarou.
Fechamento de indústrias
Aliás, uma fala constante entre as lideranças sindicais e demais convidados presentes na audiência pública é o fechamento de pequenas empresas minero-metalúrgicas em várias regiões de Minas, como o próprio Vale do Aço, Norte de Minas, Mariana, Ouro Preto, Sete Lagoas, Divinópolis, entre tantas outras. “O que se observa são cemitérios de pequenas siderúrgicas. Precisamos definir que Brasil a gente quer”, disse o professor de Metalurgia da Universidade de Ouro Preto, Cláudio Batista.
O diretor da UGT-MG, Luiz Adriano Teodoro, o Luft, lembrou que Minas Gerais é a terceira economia do país e, se acabar com o segmento minero-metalúrgico, cairá para a 14% posição, o que vem demonstrar a importância do setor para o Estado.
Ele criticou o alto custo da energia elétrica em Minas, o que tem inviabilizado muitas indústrias e provocado a demissão de trabalhadores, e lamentou a insensibilidade do Governo do Estado em não abrir mão dos lucros da Cemig em troca da manutenção de empregos.
Por outro lado, o diretor ugetista concorda que há, sim, empresas que se aproveitam da crise para explorar trabalhador e a utilizam como desculpa para demitir e retirar direitos. “Tem empresas estocando minério esperando a melhora do preço no mercado internacional”, disse Luft, que defendeu a união do movimento sindical na defesa dos direitos dos trabalhadores.
Sobre o setor metalúrgico
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (Caged/MTE), no ano de 2015 foram eliminados 34.174 mil postos de trabalho no ramo metalúrgico mineiro, resultado da diferença entre 67.816 admissões e 101.990 desligamentos. Os setores que lideraram as perdas de emprego foram automotivo (montadoras+autopeças+encarroçadoras)
De acordo com os dados do Caged/MTE, no ano de 2015 foram eliminados 1,5 milhões de empregos formais no Brasil. No Estado de Minas Gerais, no mesmo período, foram eliminados 196 mil postos de trabalho, que representa uma perda de 3,87% em relação ao estoque de empregos formais do ano anterior.