União Geral dos Trabalhadores

Governo estuda uso do FGTS como garantia de empréstimo consignado, diz Barbosa

25 de Janeiro de 2016

Matéria publicada no dia 22 de janeiro de 2016, sobre a possibilidade de usar parte da multa do FGTS como garantia para empréstimos consignados.

Lembrando que não há nada ainda definido a respeito. Até o momento são apenas discussões internas no governo.

A matéria abaixo foi acessada no link
http://oglobo.globo.com/economia/governo-estuda-usar-multa-do-fgts-como-garantia-para-consignado-diz-barbosa-18521517

DAVOS e RIO - O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou, dia 22/01/15, que o governo está estudando a possibilidade de permitir que parte da multa do FGTS seja usada como garantia para empréstimos consignados, aqueles que têm as prestações descontadas diretamente do contracheque do devedor.

Segundo o ministro, essa foi uma demanda apresentada por instituições financeiras, mas o martelo ainda não foi batido. Barbosa negou que o governo esteja considerando simplesmente permitir que o fundo seja usado para estimular o consumo. Para economistas, a medida pode beneficiar bancos, mas coloca em risco as finanças dos trabalhadores, em um cenário de desemprego em alta.

- Algumas instituições financeiras defenderam que o saldo da multa pudesse ser usado como uma garantia para empréstimos consignados. Caso o trabalhador perca o emprego, aquilo poderia ser usado para pagar o empréstimo. Nós pedimos mais detalhes sobre isso, e o assunto vai ser estudado pela Fazenda — disse ele.

ARGUMENTO É A ALTA DO DESEMPREGO
Barbosa explicou que o argumento dos bancos é que, diante do aumento do desemprego no país, o uso da multa de 40% do FGTS — paga em caso de demissão sem justa causa — ajudaria a diminuir os riscos e os juros do crédito com desconto em folha. A medida só valeria para os trabalhadores do setor privado. No entanto, segundo ele, a equipe econômica ainda tem que avaliar com mais cuidado os impactos que essa medida terá.

— Temos que confirmar o quanto reduz (os juros), qual o potencial disso e qual o impacto que isso pode ter sobre o FGTS — disse o ministro.
Hoje, acordos entre empresas privadas e instituições financeiras já permitem que até 30% das verbas rescisórias (como aviso prévio e férias vencidas) sejam usados para abater a dívida do empréstimo consignado. Mas, nesse percentual, não entra o dinheiro da multa do FGTS.

Para especialistas, a mudança nas regras beneficia bancos e não os trabalhadores. O risco, argumentam, é que ao ser demitida, a pessoa fique em situação ainda mais complicada.

— Acho a pior ideia que possa existir. Para a população, é um tiro no pé. Os bancos querem garantir o lado deles, mas as pessoas vão se enforcar mais ainda — avaliou a professora de Finanças do Ibmec/RJ Myrian Lund. — A gente percebe uma pressão do governo para crescer sem arrumar a casa.

O consultor financeiro Marcelo Segredo, presidente da Associação Brasileira do Consumidor, destaca ainda que a mudança pode prejudicar as renegociações de contratos, uma vez que os bancos ficarão mais confortáveis com a garantia de pagamento integral em caso de demissão.

— Se o banco tiver certeza do recebimento, as negociações ficarão mais difíceis. O poder de barganha do consumidor deve diminuir — afirmou.
Mauro Rochlin, professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas, também discorda da ideia. Para ele, estimular o consumo pode ser arriscado, diante da inflação persistente e alta.

— O governo entende que, desde 2012, os bancos se retraíram. Agora, quer abrir uma “torneirinha”. Não acredito que seja uma boa saída. Estimular o consumo pode aumentar a pressão sobre os preços — afirmou o economista.

O ministro da Fazenda nega que o objetivo do governo seja o consumo.
Barbosa afirmou que o foco do governo é no crédito para a recuperação do investimento. No entanto, disse que brasileiros não devem ter medo de consumir, caso tenham recursos:

— Obviamente, é bom que o consumo cresça. As pessoas que podem e têm recursos para consumir não devem ficar com medo disso. Devem aproveitar os preços que estão baratos em algumas áreas, como imóveis.

JUROS MAIS ALTOS PARA SETOR PRIVADO
A sugestão dos bancos ocorre em um momento em que a inadimplência dos empréstimos consignados a trabalhadores do setor privado está em alta. A taxa de calote nessa modalidade alcançou 5,7% em novembro, segundo os últimos dados divulgados pelo Banco Central. Trata-se do maior percentual desde março de 2013. Enquanto isso, o indicador de calote nos empréstimos a aposentados e pensionistas, não sujeitos a demissão, está em apenas 1,8%.

Com a desconfiança em alta, menos dinheiro passou a circular nesse mercado. Em novembro de 2015, as concessões de crédito consignado no setor privado ficaram em apenas R$ 646 milhões, queda de 28,8% em relação ao volume emprestado em igual mês de 2014. Para efeito de comparação, os empréstimos a funcionários públicos, também com desconto em folha, chegaram a R$ 7,4 bilhões em novembro do ano passado, 6% a menos que no mesmo período do ano anterior.
As taxas de juros da modalidade também são menos convidativas no setor privado. Estavam em 41,7% ao ano em novembro. Aos servidores públicos, os juros eram de 26,3% ao ano, segundo o BC.