União Geral dos Trabalhadores

Grupo de trabalho discute o agravamento da situação dos trabalhadores atingidos pelo rompimento da barragem da Samarco

15 de Janeiro de 2016

Demissões e aumento nos casos de doenças são algumas das situações que preocupam os técnicos

 

O Grupo de Trabalho de Acidente Ampliado e Desastre e Entidades Sindicais foi constituído pela Diretoria de Saúde do Trabalhador da Superintendência de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAT/SVEAST) da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

 

Criado logo após o rompimento da barragem de rejeito de Fundão e o transbordamento da lama na barragem de Santarém, em Mariana, esse grupo tem se reunido periodicamente.

 

Dele participam técnicos da DSAT/SVEAST e representantes da Escola de Medicina da UFMG e da UFOP, Departamento de Psicologia da FAFICH/UFMG, Superintendência Regional de Saúde de Belo Horizonte, CEREST Belo Horizonte, CEREST Estadual, Conselho Federal de Psicologia, Secretaria Municipal de Saúde de Mariana e Ministério do Trabalho e Previdência Social.

 

Um de seus objetivos é apoiar e monitorar possíveis agravos da população trabalhadora atingida pelo desastre, não apenas dos empregados diretos e terceirizados da Samarco, como também de trabalhadores envolvidos no salvamento, resgate e atendimento as vítimas e outros atingidos ao longo do Rio Doce.

 

A última reunião foi realizada nessa quinta-feira, 14 de janeiro de 2016, e contou com a presença de representantes do movimento sindical, incluindo a UGT-MG. O objetivo foi colher sugestões, ouvir o que têm a dizer e convidar as lideranças sindicais a colaborar com o trabalho.

 

Relatos preocupantes

A coordenadora do grupo técnico e diretora de Saúde do Trabalhador da SVEAST, Marta Freitas, relatou as impressões que teve em sua última visita à região de Mariana, durante a qual conversou com a comunidade, gestores públicos e outros atores sociais do município.

 

O cenário não é animador. Segundo Marta, as notícias são de que as demissões continuam nas empresas terceirizadas que prestam serviço à Samarco. Há informações também de que funcionários da mineradora em Ubu, no Espírito Santo, teriam recebido aviso de demissão, contrariando o pacto que havia sido feito com o Ministério Público do Trabalho.

 

Os participantes da reunião ressaltaram que esse é apenas um dos desdobramentos desse que é considerado o maior desastre ambiental e trabalhista de Minas Gerais e do Brasil. O impacto de curto, médio e longo prazo tende a ser muito maior. A redução da atividade econômica afeta as finanças municipais, comprometendo o caixa das prefeituras e a políticas públicas.

 

Na área rural, foi citado um relatório da Emater, segundo o qual as áreas atingidas pela lama da Samarco não serão agricultáveis por um longo tempo, atingindo em cheio os agricultores familiares, com o risco de causar o desabastecimento de frutas e legumes.

 

“O impacto do desastre no trabalho é muito maior do que se imagina, uma vez que afeta toda a população da área e dos municípios atingidos, com repercussões no presente e no futuro. Há um reducionismo no trato da questão da empregabilidade e é preciso dar mais visibilidade a esse tema”, alerta Marta Freitas.

 

Há um temor também com a possibilidade de agravamento na área da saúde. Os relatos apontam a morte contínua de animais pós-desastre, surto de diarréia ao longo do rio Doce, a preocupação com o surgimento de novas doenças por contaminação e a necessidade de um apoio mais intensivo, inclusive psicológico, às vítimas da lama da Samarco. Por isso, foi defendido que se faça o monitoramente e um inquérito de saúde na população atingida.

 

Protocolos e condutas

Nem o Estado e nem a Samarco estavam (e ainda não estão) preparados para uma tragédia de tamanha magnitude. Por isso, Grupo de Trabalho irá propor normas, protocolos e procedimentos para prevenir e estabelecer condutas no Estado nas ocorrências de acidentes ampliados como o ocorrido.  “Entendemos que o desafio de atingir tais objetivos só será possível se pudermos contar com a participação das entidades sindicais das categorias profissionais”, disse Marta de Freitas.

 

A ideia é formalizar a proposta já nos próximos dias e encaminhá-la à Força Tarefa criada pelo governo de Minas para avaliar os efeitos e desdobramentos do rompimento das barragens da Samarco.

 

Em memória às vítimas

O grupo também vai organizar um evento especial em Mariana, no dia 28 de abril. Nesta data é celebrado o Dia Internacional em Memória às Vítimas de Acidentes de Trabalho. Foram apresentadas várias propostas de atividades e os detalhes serão finalizados e comunicados posteriormente.