Ato público em Belo Horizonte cobra justiça para a chacina de Unaí
Julgamento dos réus, no entanto, é mais uma vez adiado
Faixas, cartazes, balões pretos, caixão e palavras de ordem como “Justiça”, “prisão para os assassinos” e “basta de impunidade” marcaram o ato público realizado na tarde dessa quarta-feira, 21 de outubro, em frente ao prédio da Justiça Federal, no bairro Santo Agostinho, em Belo Horizonte.
Organizado pelo Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) e pela Delegacia Sindical em Minas Gerais, os manifestantes pediram a imediata condenação dos responsáveis pelo assassinato de quatro servidores do Ministério do Trabalho que investigavam denúncia de trabalho escravo em fazendas de Unaí, na Região Noroeste do estado, em janeiro de 2004, no crime que ficou internacionalmente conhecido como “chacina de Unaí”.
Participaram do ato público sindicalistas, familiares das vítimas, cidadãos solidários à causa e representantes de diversos sindicatos e centrais sindicais mineiras, entre as quais, a UGT-MG.
A manifestação ocorreu um dia antes da data marcada para o início do julgamento de quatro réus. A partir desta quinta-feira, 22 de outubro, iriam a júri popular os irmãos Norberto e Antério Mânica, acusados de mandantes do crime, e os empresários José Alberto Costa e Hugo Alves Pimenta, suspeitos de ter intermediado a contratação dos pistoleiros para executar as vítimas.
Os quatro são acusados de homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, emboscada e para assegurar a impunidade de outros crimes. O julgamento está a cargo da 9ª Vara da Justiça Federal.
“Nossa expectativa é de que, finalmente, todos sejam julgados e condenados pelo bárbaro crime que cometeram. 12 anos se passaram e, ao longo deste tempo, os réus apresentaram uma infinidade de recursos que só fizeram adiar o julgamento. Não suportamos mais tanta demora, com tentativas de adiar indefinidamente e fazer com que o crime prescreva e caía no esquecimento. Ninguém pode estar acima da lei”, afirmou a presidente do Sinait, Rosa Maria Campos Jorge, durante o ato público.
Presente na manifestação, o secretário geral da UGT-MG, Fabian Schettini, lembrou que o assassinato dos quatro servidores representa um atentado contra o Estado e toda a classe trabalhadora. “Eles foram mortos no exercício de suas funções, combatendo o trabalho escravo e aqueles que insistem em agir contra a lei. Estamos aqui para prestar nossa solidariedade aos servidores da Justiça do Trabalho e ficaremos vigilantes até os réus serem condenados”, disse Schettini.
Julgamento adiado
No entanto, o julgamento de Norberto e José Alberto foi, mais uma vez, adiado e remarcado para a próxima terça-feira (27). Os outros réus devem ser julgados no mês que vem, em mais uma manobra da defesa, gerando indignação nos familiares e servidores da Justiça do Trabalho que estavam concentrados e em vigília em frente à Justiça Federal na manhã desta quinta-feira, 22/10.
O advogado de Norberto Mânica disse, antes de começar o julgamento, que o Ministério Público Federal juntou novas informações ao processo sem que a defesa pudesse ter conhecimento de seu inteiro teor.
Para entender o caso
O crime aconteceu no dia 28 de janeiro de 2004. Os auditores Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonsalves e o motorista Aílton Pereira de Oliveira foram assassinados por pistoleiros numa emboscada na área rural de Unaí. Motivo: as investigações sobre trabalho escravo nas propriedades da família Mânica, conhecida como reis do feijão.
Em agosto de 2013, três acusados de executar as mortes dos servidores foram condenados. Erinaldo de Vasconcelos Silva recebeu pena de 76 anos e 20 dias por três homicídios triplamente qualificados e por formação de quadrilha, Rogério Alan Rocha Rios a 94 anos de prisão pelos mesmos crimes e William Gomes de Miranda a 56 anos de reclusão por homicídio triplamente qualificado.
Os irmãos Mânica e os empresários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro também seriam julgados em 2013, mas entraram com pedido de habeas corpus solicitando a transferência do local do julgamento de Belo Horizonte para Unaí. O pedido foi indeferido pelo Supremo Tribunal Federal recentemente. A decisão foi comemorada pelos familiares das vítimas e pelas entidades sindicais. Havia um temor de que a transferência do julgamento poderia significar a impunidade dos acusados.