Seminário na UGT Zona da Mata aponta formas de atuação do movimento sindical diante do atual cenário do País
A crise econômica que afeta o Brasil nos dias atuais é fruto da crise política, que sempre existiu, é cíclica e se repete a mais de 500 anos, desde que o País foi descoberto. E a ela está atrelada uma crise ética e de identidade. A opinião é do procurador do Trabalho da 3º Região, Geraldo Emediato de Souza.
De acordo com ele, as crises se repetem porque a educação nunca foi prioridade de nenhum governante. “Não há saída sem uma sólida base educacional. Hoje temos um país mal educado e, por consequência, um país que não sabe escolher seus representantes e que não exige o que precisa ser exigido. O Brasil só irá mudar quando o povo souber votar, escolher, cobrar e se propor a apresentar soluções”, afirma o procurador.
Além disso, segundo Geraldo Emediato, há os políticos inescrupulosos que, como forma de retaliação, se aproveitam da crise para politizar o debate e aprovar medidas absurdas que atentam contra os direitos dos trabalhadores e da população, como foi o caso da Medida Provisória que regulamenta a terceirização ampla e irrestrita. “Essa proposta ficou parada 11 anos no Congresso Nacional e, de repente, foi aprovada a toque de caixa. O Brasil ainda está em clima de eleições”, exemplifica.
O procurador fez essas declarações durante o Seminário “Desafios dos Sindicatos perante a atual Crise Econômica, Política e Social do Brasil”, promovido pela UGT Zona da Mata e UGT Minas, no dia 16 de julho, em Juiz de Fora.
Ao mesmo tempo em que admite que o Brasil passa por dificuldades, Geraldo Emediato diz que não se pode negar que houve avanços nos últimos anos, como a melhoria na distribuição de renda, na infraestrutura, no acesso ao ensino superior e o combate à pobreza e à mortalidade infantil. “O Brasil melhorou muito em relação ao seu passado e corremos o risco de retroceder em função da crise política”, alertou.
Luta desigual entre trabalhadores e classe patronal
Também presente no seminário, o presidente da OAB Sindical, Bruno Figueiredo, fez um resgate da história do movimento sindical, desde seu surgimento até os dias atuais e as perspectivas para o futuro.
Ele afirma que houve muitas conquistas trabalhistas, especialmente a partir da Constituição de 1988 e da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), mas alertou: “O avanço do poder econômico tem sido avassalador, no sentido de flexibilizar e precarizar os direitos trabalhistas. Os empresários não se contentam em tirar apenas o anel do trabalhador, querem também seu dedo”.
Como exemplo, Bruno cita a atual composição do Congresso Nacional, em que cerca de 80% dos parlamentares são empresários ou eleitos com recursos doados por empresas. Evidentemente, não irão defender os direitos dos trabalhadores e, sim, interesses particulares. “São os legisladores que estão cassando os direitos dos trabalhadores”, frisou.
A forte atuação do poder econômico faz com que o desequilíbrio em relação à atuação das entidades sindicais cresça cada vez mais. Bruno citou como exemplo o projeto que propõe a redução da jornada de trabalho, sem a redução dos salários, que está engavetado há anos no Congresso Nacional, sem a menor perspectiva de entrar na pauta de votação.
“O desafio é grande. É preciso que as entidades sindicais se fortaleçam e se profissionalizem política e juridicamente para que possam brigar de igual para igual. O momento é de buscar parcerias e de união entre sindicatos, federações e centrais sindicais”, aconselhou.
A terceira palestra do dia ficou a cargo da professora, advogada especialista em Direito do Trabalho e jornalista Déborah Paiva, que abordou os temas “Política de Metas e Limites, Motivação e Trabalho em Equipe”.
Entre as várias abordagens que fez, ela chamou a atenção para o assédio moral, ainda comum em muitos ambientes de trabalho. “O poder de punir e fiscalizar do empregador tem limites e não pode atentar contra a dignidade humana. O trabalhador tem o direito de resistência e deve resistir”, ponderou Déborah.
Homenagens
O seminário foi encerrado com homenagens prestadas a autoridades, que foram agraciadas com a placa “Amigo do Trabalhador”: a juíza da 5 ͣ Vara do Trabalho do TRT da 3 ͣ Região, Maria Raquel Ferraz Zagari Valentim; o ex-presidente da OAB Nacional, Cezar Brito; o procurador do Trabalho da 3 ͣ Região, Geraldo Emediato de Souza; e a jornalista do Jornal Tribuna de Minas, Bárbara de Almeida Riolino.
Dizendo-se lisonjeada e emocionada com a homenagem, a juíza Maria Raquel também se manifestou sobre o tema do evento. “O desafio do movimento sindical no século XXI é mostrar que é autêntico, verdadeiro, que não está atrelado a nenhuma política partidária ou a interesses particulares e, além disso, conquistar suas categorias e trazê-las para dentro dos sindicatos. É saber chegar no trabalhador e fazer com que seja um associado. Quando isso acontecer, o resto vai se tornar café pequeno”, opinou.
Avaliação
O coordenador da UGT Zona da Mata, Paulo Sérgio Pena Félix, diz ter saído satisfeito com o resultado do seminário. “Avaliamos de forma muito positiva. Este é o caminho que o sindicalismo moderno deve seguir: se inserir na sociedade. Intensificamos a divulgação da UGT Zona da Mata com o intuito de angariar mais sindicatos para a Central, não somente em termos de quantidade, mas, sobretudo, de qualidade”, ponderou.
O presidente da UGT Minas, Paulo Roberto da Silva, lembrou que investir na formação política e sindical é prioridade da Central, que já realizou eventos semelhantes em outras regionais e tem como meta promover novos seminários em todo o Estado de Minas Gerais.
Para ele, é na crise que o movimento sindical tem que mostrar sua força e se organizar para o embate. “Precisamos repensar nossas ações, se estamos ou não no caminho certo, e recolocar a locomotiva nos trilhos. Não podemos aceitar as medidas que estão sendo impostas à classe trabalhadora”, declarou.
O Seminário “Desafios dos Sindicatos perante a atual Crise Econômica, Política e Social do Brasil”, contou com a presença de outros convidados, como o vice-prefeito de Juiz de Fora, Sérgio Rodrigues, o subsecretário de Governo, Paulo Gutierrez, advogados e representantes de diversos sindicatos da região.