Na Fiemg, Metalúrgicos de Bocaiuva e empresários defendem empregos
BELO HORIZONTE/MG - A preocupação com o emprego de centenas de operários do Norte mineiro colocou na mesma mesa diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de Bocaiuva (Sindboc) e da Federação dos Metalúrgicos de Minas Gerais (Femetalminas), dirigentes da Rima Industrial e o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), em 28/05, na sede da organização empresarial, em Belo Horizonte.
Na mesa, a instabilidade gerada com a indefinição na reforma do contrato entre a Rima e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), cuja renovação é incerta e poderá depender de valores que sejam competitivos com os mercados chinês, francês e norte-americano, nos quais os governos disponibilizaram cotas energéticas em prol do desenvolvimento. A empresa já sinalizou que seguirá reduzindo o efetivo de 1.800 trabalhadores de forma drástica, ameaçando o encerramento das atividades em 31 de dezembro de 2014, data limite do contrato.
Os números são eloquentes: em 2013, a empresa desligou 170 empregados e contratou outros 190. De janeiro a maio de 2014, 179 perderam o emprego, sem nenhuma admissão. A apreensão cresce a partir do impacto da demissão de 1,8 mil na economia regional.
SOLIDEZ ECONÔMICA - O Grupo Rima possui unidades nos municípios de Bocaiúva, Capitão Enéas e Várzea da Palma, empregando mais de cinco mil empregados. É líder na produção e comercialização de ligas à base de silício no Brasil e o único produtor de magnésio primário do Hemisfério Sul. Os produtos são fabricados a partir de reservas próprias de dolomita e quartzo de alta pureza, em processos certificados pela norma ISO 9001/2000. A produção é sustentável, com florestas, que produzem biocombustível sólido.
Fernando França, diretor industrial da Rima, informou que apenas na Unidade de Magnésio e Pecas Injetadas, localizada em Bocaiúva, investiu, em média, R$ 12 milhões/ano, durante os últimos 12 anos, totalizando quase R$ 150 Milhões em modernizações e novos projetos, somente naquela unidade. O empresário cobrou a chance de discutir os problemas do setor em todas as regiões, reclamando do rigor da legislação, que exige um prazo de cinco anos para um consumidor livre voltar a ser consumidor cativo de uma distribuidora, dificultando ainda mais a manutenção do suprimento de energia elétrica ao consumidor livre, que terá o contrato de fornecimento encerrado.
França lamentou a falta de abertura do governo federal em destinar parte da energia das usinas depreciadas, mais barata, para os grandes consumidores industriais de energia elétrica, que atualmente tem contratos com geradoras no mercado livre de energia e que respondem por 27% do consumo nacional de energia elétrica. A energia mais barata, oriunda das usinas depreciadas, foi direcionada exclusivamente para o mercado cativo, atendido pelas distribuidoras de energia elétrica, o que deixou os consumidores do mercado livre sem opções de acesso à energia, a preços competitivos.
QUEBRA DO SISTEMA - “Mesmo as empresas que renovarem contratos energéticos em alto custo não afastarão a ameaça de quebradeira do sistema de produção do ferro-ligas, que se fará sentir em outros setores da economia”, adverte Delson Oliveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bocaiuva e diretor da UGT-Minas.
O metalúrgico, que representou o deputado federal e presidente da Central em Minas, Ademir Camilo, considerou oportuna a iniciativa de envolver a Fiemg na busca de soluções para a problemática. Ele acredita que a gravidade da questão deve incluir o governo do Estado e o governo federal, o regulador do setor energético nacional. “Sugerimos que, embora seja mais cara, parte da energia das termelétricas pode ser posta a serviço da indústria para garantir o desenvolvimento e o pleno emprego”, afirmou o sindicalista.
Olavo Machado Júnior elogiou a forma competente como as lideranças sindicais e empresariais visualizaram a questão, assumindo o compromisso de levar o tema à apreciação do governador Alberto Pinto Coelho e fazer pleito para uma agenda com o grupo. “A oportunidade de discutir o assunto é a chance de chegar à solução”, comentou Olavo Machado Júnior.
FOCO NO LUCRO - O líder empresarial analisou o fato de a Cemig não enfocar a questão do abastecimento como central, focalizando o aspecto empresarial. Para ele, a decisão de transformar a Cemig em empresa voltada para os acionistas fez com que o problema energético se tornasse político. A estratégia de aumentar a reserva de energia e vende-la no mercado livre projetou em 45% o lucro da concessionária no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2013. Entre janeiro e março, o lucro da companhia registrou R$ 1,25 bilhão, contra R$ 865 milhões do primeiro trimestre do ano passado. Comprar o megawatt/hora por uma média de R$ 100 e comercializar no mercado livre por até R$ 822 garantiu robustez ao caixa da concessionária.
Comparando o quadro de 2001 - quando uma crise energética afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica, entre julho de 2001 e setembro de 2002 – o presidente da Fiemg embrou que, mesmo com a escassez de chuvas e com o custo de energia mais caro, o país possui termelétricas.
Renato Ilha, jornalista (MTE 10.300)