Maioria das negociações, em 2013, resultou em aumento real de salário, aponta DIEESE
SÃO PAULO/SP - O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), através do Sistema de Acompanhamento de Salários (SAS-DIEESE), analisou os resultados das negociações coletivas de 671 unidades de negociação da Indústria, Comércio e Serviços em todo o território nacional no ano de 2013.
Na análise, constatou que cerca de 87% das unidades de negociação pesquisadas conquistaram reajustes com aumento real dos salários, 7% conquistaram reajustes em valor igual à inflação e 6% tiveram reajustes insuficientes para recompor o valor dos salários desde a última data-base – segundo comparação com o INPC-IBGE 2013 foi de 1,25%.
Os dados de 2013 revelam um recuo frente ao quadro analisado em 2012 – o melhor ano para a negociação dos reajustes salariais, de acordo com a pesquisa do SAS-DIEESE –, e dados mais próximos aos observados em 2011. Esse resultado já se prenunciava no balanço do primeiro semestre de 2013. Porém, também como era esperado, as negociações coletivas do segundo semestre apresentaram um desempenho melhor que as do primeiro e elevaram o patamar médio das conquistas no ano: 94% das unidades de negociação com data-base no segundo semestre conquistaram aumentos reais, e o aumento real médio foi de 1,52%.
RESULTADOS - Em 2013, cerca de 87% dos 671 reajustes salariais analisados pelo SAS-DIEESE resultaram em ganhos reais para os salários. Esse percentual é cerca de 8 pontos percentuais inferior ao observado nas mesmas 671 unidades de negociação em 2012, mas é próximo dos resultados observados em 2010 e 2011 e superior aos registrados em 2008 e 2009.
A queda no percentual de reajustes com aumento real se refletiu tanto no aumento do percentual daqueles em valor igual à variação da inflação medida pelo INPC-IBGE – da ordem de 3 pontos percentuais em relação a 2012 – como no crescimento do percentual daqueles em valor abaixo desse índice – da ordem de 5 p.p., também na comparação com 2012.
Nota-se, igualmente, que cresceu o percentual de reajustes com ganhos reais abaixo de 1%, após um período em que estes vinham se reduzindo significativamente (em 2010 e 2012, em favor das faixas de maiores ganhos reais) ou mantendo-se em relativa estabilidade (em 2011). Os reajustes com ganhos reais de até 1%, somados àqueles localizados na faixa subsequente, entre 1,01% e 2% acima do INPC-IBGE, totalizam cerca de 2/3 dos reajustes salariais de 2013.
Os reajustes com ganhos reais acima de 3% representaram cerca de 5% do painel do ano passado – menos do que o observado em 2010, 2011 e 2012, e próximo ao registrado em 2008 e 2009.
Com relação à variação real dos salários resultante dos reajustes salariais analisados, nota-se que em 2013 a variação se deu entre 1,08% abaixo do INPC-IBGE e 8,31% acima – amplitude menor do que a registrada nos anos anteriores.
O aumento real médio em 2013 foi de 1,25% acima da inflação, abaixo do verificado em 2010, 2011 e 2012, mas superior ao observado em 2008 e 2009. A comparação entre os valores localizados no 1º e 3º quartil e na mediana desde 2008 revela a mesma característica.
REAJUSTE POR SETOR ECONÔMICO - Dentre os setores analisados, o Comércio foi o que apresentou o maior percentual de negociações com aumento real em 2013. Quase a totalidade das negociações do setor – 98% das 111 analisadas – registraram aumento real no ano. Na Indústria, aumentos reais foram observados em 89% das 343 unidades de negociação pesquisadas. Nos Serviços, em 78% das 217 unidades de negociação do setor.
A maior frequência de aumentos reais no Comércio e a menor nos Serviços foram observadas em todos os anos analisados neste estudo. Nos três setores, a maior parte dos ganhos reais foi menor que 2% acima do INPC-IBGE. Na Indústria e no Comércio, os ganhos reais entre 1,01% e 2% foram os mais frequentes. Nos Serviços, os mais frequentes foram os ganhos reais de até 1%.
Os reajustes abaixo da inflação foram mais observados nos Serviços (11% do setor), do que na Indústria (5%) e no Comércio (2%).
INDÚSTRIA - O percentual de reajustes acima da inflação na Indústria, em 2013, é semelhante ao observado em 2010 e 2011 – nos dois casos, próximos de 90% –, superior a 2008 e 2009 – quando gravitaram em torno de 85% –, e inferior a 2012 – quando atingiu a marca de 96%.
Por outro lado, a proporção de reajustes abaixo da inflação de 2013 é a maior desde 2010. Quanto à variação do aumento real médio, em 2013 fica abaixo do observado em 2010, 2011 e 2012.
Considerando os principais segmentos da Indústria, nota-se que a queda no número de aumentos reais em 2013 foi generalizada, embora nem sempre significativa. Em muitos casos, o recuo em relação a 2012 representou uma volta ao patamar observado em 2010 ou 2011.
As principais reduções foram observadas nas negociações dos urbanitários (eletricitários e trabalhadores nas indústrias de purificação de água e saneamento básico), dos trabalhadores na indústria do vestuário e na indústria têxtil. Foi também entre os urbanitários que se observou a maior proporção de negociações com reajustes abaixo do INPC-IBGE na indústria (19%).
Aumentos reais foram mais frequentes nas negociações dos Gráficos, Metalúrgicos, trabalhadores da alimentação, da construção e mobiliário e do papel, presentes em mais de 90% dos acordos analisados de cada segmento.
COMÉRCIO - O Comércio, como já destacado, apresenta a maior proporção de reajustes com aumento real em 2013. Em 2008 e 2009, ganhos reais foram observados em quase 90% dos acordos do Comércio. Em 2010, a proporção sobe para 96%, mantendo-se nesse patamar até 2012. Em 2013, observa-se um novo aumento, passando a 98% das negociações.
Contudo, o valor do aumento real médio de 2013 é inferior ao observado em 2012 e, ainda que apenas ligeiramente, em 2010 e 2011. A maior proporção de aumentos reais foi alcançada no segmento do comércio de minérios e derivados de petróleo, no qual todas as negociações analisadas resultaram em reajustes acima da inflação. No segmento do comércio varejista e atacadista, a proporção se manteve em 98%, patamar alcançado em 2010.
Quanto aos aumentos reais médios, a redução no valor foi observada em ambos os segmentos. No comércio varejista e atacadista, o valor alcançado ficou próximo do observado em 2011. No comércio de minérios e derivados de petróleo, é o menor desde 2010.
SERVIÇOS - No setor de Serviços é verificada a menor proporção de reajustes acima do INPC- IBGE do estudo. Ela variou de 62%, em 2008, para 78%, em 2013, atingindo o seu ponto mais alto em 2012, quando foi observado em cerca de 93% das 217 unidades de negociação analisadas do setor.
Quanto à variação do aumento real médio no período, nota-se um comportamento parecido aos dos outros dois setores, ainda que em escala diferente. Ele cresce entre 2008 e 2010, sofre um recuo em 2011, sobe em 2012 para atingir o seu ponto mais alto, e caí novamente em 2013.
A análise por atividade econômica dos Serviços revela que em quase todos os segmentos houve queda no percentual de negociações com aumento real em 2013. Destoam do quadro as negociações realizadas por bancários e securitários, caso em que todas as 13 unidades de negociação conquistaram aumento real, o que vem ocorrendo desde 2009, e por trabalhadores nos transportes, que manteve o patamar alcançado em 2012, de aproximadamente 88% das 33 unidades de negociação consideradas (Tabela 8).
Em alguns segmentos, o recuo ocorrido no ano passado representou uma volta ao patamar de 2011 – como observado nas negociações dos trabalhadores em comunicação, segurança e vigilância e em serviços de saúde. Nas negociações dos trabalhadores no ensino privado e em turismo e hospitalidade, o recuo foi menor, resultando em percentuais superiores
A maior redução foi observada nas negociações dos trabalhadores em processamento de dados. Em 2012, todas as 14 negociações do setor conquistaram aumento real. Em 2013, apenas a metade conquistou.
REAJUSTE POR DATA-BASE - No geral, as negociações coletivas com data-base no segundo semestre de 2013 tiveram um desempenho melhor do que as negociações com data-base no primeiro semestre.
No primeiro semestre, reajustes abaixo da inflação foram mais frequentes e cerca de 93% dos reajustes que ficaram abaixo do INPC-IBGE foram firmados por categorias com data-base nesse período.
Contudo, dado o elevado número de reajustes acima da inflação no ano, o percentual de aumentos reais no primeiro semestre ainda assim foi alto, de aproximadamente 83%. Já no segundo semestre, aumentos reais foram observados em 94% das categorias pesquisadas.
As datas-base com menor incidência de reajustes acima da inflação foram fevereiro (76%), março e abril (80% cada). Em março também se verificou a maior proporção de reajustes abaixo do INPC-IBGE (13%). As datas-base com maior incidência de aumentos reais foram agosto e dezembro (100% cada), julho (96%) e outubro (95%). Tal comportamento pode ter sido influenciado pela variação da inflação no período, que foi menor no segundo semestre.
REAJUSTE POR REGIÃO - Reajustes acima da inflação predominaram em todas as regiões geográficas brasileiras em 2013. Nas negociações com abrangência nacional ou inter-regional, o percentual de aumentos reais foi o menor (69%). É também nas negociações de abrangência nacional ou inter-regional que se observa a maior concentração de reajustes abaixo do INPC-IBGE.
Nas negociações circunscritas a uma única região, o percentual de reajustes acima da inflação foi sempre superior a 80%, com destaque para a região Sul, onde 94% das unidades de negociação analisadas conquistaram aumentos reais.
A redução dos patamares de ganhos reais foi observada em todas as regiões geograficas. A região Centro-Oeste registrou a queda mais expressiva no valor médio do aumento real, que passou de 2,37%, em 2012, para 0,97%, em 2013.