União Geral dos Trabalhadores

Em seminário, Comerciários de Betim investem na formação política

15 de Marco de 2014

BETIM/MG – Provando a intensidade do sindicalismo, simultaneamente à realização da Plenária Unificada das Centrais, realizada no sábado de 15/03, em Belo Horizonte, a diretoria do Sindicato dos Empregados no Comércio de Betim e Região (SEC-Betim) convocou diretores e funcionários - e estes os familiares – para participar do “Seminário de Formação Política do SEC-Betim”. Os diretores tiveram o cuidado de colocar brinquedos infláveis e recreacionistas para cuidar dos filhos dos participantes do encontro, presentes em grande número.

Ao abrir os trabalhos, a presidente da entidade, Celma Alves, saudou a disposição dos presentes e frisou que os trabalhadores precisam se apoderar do conhecimento e agir organizados para fazer frente ao poder econômico. Ela pediu a todos ouvissem com atenção a música “Tocando em Frente”, uma composição de autoria do paulista Renato Teixeira, imortalizada na voz do mato-grossense Almir Sater. No refrão da cantiga, o sertanejo entoa a estrofe “Conhecer as manhas e as manhãs/O sabor das massas e das maçãs/É preciso amor pra poder pulsar/É preciso paz pra poder sorrir/É preciso a chuva para florir”.

Após a audição, a líder comerciária fez comparativo entre aquela canção, que prega a reflexão e a importância da simplicidade, com a linguagem de baixo nível do funk, “uma música sem essência e que desfaz a figura da mulher”, condenou. Nas letras do funk, em que impera a promiscuidade, as mulheres são chamadas de “cachorras” e “éguas”, sem qualquer pudor.  

OBEDECER, SEM PENSAR – Celma Alves deu ênfase à concepção educacional e de hierarquia do capitalismo, para o qual devemos obedecer sem questionar. O caráter imutável de tal conceito foi duramente criticado, por representar a imposição da cultura domesticada, sem espírito crítico. “Uma visão que coloca a mulher confinada em casa e com horizontes diferentes do homem, dentro da qual o importante é copiar a moda e o estilo de vida da burguesia”, acusou a sindicalista.

A oradora tratou de desmistificar o culto à personalidade, citando o título de “Pai da Nação”, concedido por historiadores ao ex-presidente Getúlio Vargas. Frisando que “nada é de graça”, Celma demonstrou que conquistas como a carteira de trabalho, a jornada semanal de 48 horas e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), afirmadas na época getulista, foram fruto de forte mobilização popular e trabalhista, que provocou, inclusive, derramamento de sangue para que fossem asseguradas.

Classificando a televisão como “uma arma que vai para dentro dos lares”, a dirigente fez ver que esse é o principal mecanismo de imposição da ideologia e valores da burguesia, apontando programas, como as novelas e BBB (Big Brother Brasil) - além dos desenhos animados -, como reprodutores de uma cultura fútil e descartável.

“O REI DA DISCÓRDIA” - Ao falar da conjuntura internacional, o diretor Horoni Rosa denunciou o imperialismo por seguir interferindo nas questões internas de nações soberanas, enumerando casos como o Vietnã, Iraque e, recentemente, a Síria.

A cobiça pelo petróleo, como pano de fundo, tem levado o governo norte-americano a invadir territórios e provocar guerras a pretexto de “defender o mundo livre”. Rosa também fez menção à polarização existente no universo político brasileiro, imerso em crises de interesse e que secundarizam a gritante carência de investimentos no campo social.

TRABALHAR ADOECE - Qualificando a plateia de “especial”, por abrir mão de descansar e ficar em casa naquele sábado ensolarado, o médico do Trabalho Geraldo Pimenta falou sobre a saúde do trabalhador. Ele lembrou que, em 1987, em Betim, um ônibus com operários que, semanalmente, perdiam dedos em prensas industriais de uma empresa, foi até Brasília denunciar o descaso com a saúde do trabalhador. Esse ônibus – “de trabalhadores sem-dedo” – foi levado até o Ministério do Trabalho, para denunciar o acontecimento para todo o País. De lá para cá, diminuiu a incidência de acidentes de trabalho, mas aumentou a ocorrência das doenças relativas ao trabalho, mudando o perfil do adoecimento.

Se antes os Comerciários sofriam acidentes nos supermercados e açougues - que provocavam ferimentos, cortes e contusões e fraturas - de uns tempos para cá, há uma epidemia de empregados no comércio vítimas de distúrbios ósseo-musculares, as chamadas LER (Lesões por Esforço Repetitivo), tendinite, bursite, lombalgia, dorsalgia e cervicalgia, que muitas vezes são invisíveis, assim como o sofrimento mental, as depressões e neuroses, o alcoolismo e o uso de drogas, que se relacionam com as condições de trabalho e de vida que o trabalhador enfrenta no dia-a-dia. O adoecer passa a ser mais escondido, na medida em que a dor não é aparente, pois não se enxerga a alteração física, mas a pessoa está sofrendo dores crônicas intensas. O comerciário sofre de varizes nos membros inferiores por precisar ficar de pé por muito tempo, sem se movimentar, ou é acometido de doenças respiratórias, cardíacas ou vasculares, por falta de exercício físico, ou mesmo a falta de uma alimentação balanceada.

Em resumo, os Comerciários estão expostos a ambientes de trabalho muito agressivos, somado ao cumprimento de uma longa jornada de trabalho, posições incômodas, movimentos repetitivos e o modo de organização do trabalho, por conta do estabelecimento de metas e cotas de produtos, que são medidos em forma de condição, o que gera uma pressão para a realização do trabalho.

SINDICALISMO MILITANTE - Edna Oiveira, diretora do SEC-Betim e integrante da Comissão Municipal de Saúde, ressaltou a importância de os Comerciários atuar no controle social da Região, apresentando um relato sobre a participação que tem na montagem da IV Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, marcada para ocorrer entre 10 e 13 de novembro de 2014, em Brasília/DF, obedecendo à portaria 2.808, de 20/11/2013, do Ministério da Saúde. 

Valdir Rocha, tesoureiro do sindicato, foi enfático ao afirmar que o papel do dirigente sindical é o mesmo de um militante, destacando a importância do funcionário da entidade sindical ao informar e orientar o trabalhador, “o que requer engajamento à causa”, assinalou.

Diretor da entidade e assistente social, Thiago Henrique falou da violência institucional, aquela que é promovida pelo Estado, mostrando que o aparato da segurança pública é insuficiente para responder ao problema da violência nas cidades. Para ele, o acesso aos serviços públicos é uma forma mais eficaz de, em médio e longo prazos – ajudar o cidadão e prevenir contra a disseminação da violência. Em tom crítico, Thiago acusou a mídia de não divulgar informações que ajudem o cidadão a compreender as ações do Estado e enfrentar a violência no campo da prevenção.

DISCUTIR POLÍTICA, SEMPRE - Antes de formar um grande círculo com as dezenas de presentes e encaminhar o seminário para o encerramento, a presidente do SEC-Betim alertou que, por ser um ano de Copa do Mundo de Futebol, 2014 também será um ano de distração. Celma Alves advertiu que discutir política é sempre bom, “pois ela (a política) está em tudo o nos cerca”. A dirigente manifestou satisfação ao ver a satisfação no rosto de cada um dos participantes e o fato de observar conversas relativas ao debate no decorrer do almoço que se seguiu.

O Seminário de Formação Política do SEC-Betim reuniu diretores e funcionários, incluindo assessores, e contou com a colaboração de Paulo Cesar da Silva, membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Belo Horizonte e Região (STTRBH), que naquele final de semana dava continuidade ao Festival de Inverno, promovido anualmente pela entidade.

 

Renato Ilha, jornalista (MTE 10.300)