Instituto da UGT servirá como modelo
A União Geral dos Trabalhadores (UGT) iniciou a semana com um importante encontro que visa o trabalho conjunto de duas economias distintas, porém, que muito têm a trocar uma com a outra. Em sua sede, em São Paulo, o presidente da UGT, Ricardo Patah, recebeu nesta segunda-feira, 10/12, representantes dos trabalhadores norte-americanos: SEIU (Service Employee International Union) e UAW (United Auto Workers). Entre os pontos levantados: a qualificação da educação, imigração, qualidade de trabalho, economia, comunicação, luta sindical, políticas sociais e a implantação do Instituto de Altos Estudos da UGT (IAE).
A UAW, que já foi noticiada pela imprensa da UGT na ocasião de sua vinda ao Brasil para a participação do Salão do Automóvel, em outubro, em São Paulo, é um Sindicato Internacional que organiza os trabalhadores da indústria automotiva, aeroespacial e trabalhadores que fabricantes de equipamentos agrícolas, voltado para o trabalho decente e treinamento de trabalhadores de mais de 750 sindicatos dos EUA, Canadá e Porto Rico. A SEIU representa mais de 2 milhões de trabalhadores no Universo EUA-Canadá, sendo um sindicato em grande ascensão na América do Norte, com foco na saúde, limpeza e serviços públicos.
Como ponto de partida, Ricardo Patah abriu a mesa focando na importância de se investir na qualidade do ensino e a defesa da UGT em destinar os 10% do pré-sal para a educação: “não basta destinar uma quantia para a educação, caso ele seja massificada e não tenha qualidade. Há uma grande expectativa nessa remessa, mas que ela possa instruir e qualificar os jovens, que tenha ensino com conteúdo e não apenas uma massificação educacional”.
Patah frisou a importância da atuação do movimento sindical na política para melhor representar os direitos do trabalhador no Congresso. “Temos 3 deputados federais da UGT representando a classe trabalhadora na política, elegemos mais de 50 vereadores no Brasil e temos um vice-prefeito, (vice-presidente da UGT - Antonio Salim dos Reis) em uma importante cidade paulista – Carapicuíba, e vamos continuar esse trabalho político-sindical, de atuação”, mostrou o presidente da UGT.
Este quadro foi aberto, uma vez que o sindicalismo norte-americano encontra-se bastante enfraquecido por conta da ideologia de direita que desrespeita a legislação estabelecida e a força que as multinacionais têm sobre os trabalhadores, não permitindo a ação dos movimentos sindicais, enfraquecendo ainda mais a economia, diminuindo a qualidade de vida e condições de trabalho; vide as recentes greves do Wal-Mart e de restaurantes fast food, ocorridas nos EUA. Já o Brasil, vem crescendo a qualidade de trabalho, aumentando a classe média, muito pela atuação histórica da luta sindical, das políticas públicas de governo para a erradicação da miséria e tipos de implementações econômicas no tocante a driblar a crise internacional.
“É interessante começarmos com semelhanças e diferenças em nossos países. Parabenizo o Brasil pelo trabalho fantástico feito na última década. A qualidade de vida do trabalhador brasileiro é resultante da força sindical no País, o oposto dos EUA. Precisamos de um trabalho de cooperação entre as centrais, para um trabalho coletivo, reunir recursos, no sentido de buscar uma organização para a classe trabalhadora”, aponta os desafios da luta sindical Tom Woodruff, vice-presidente executivo da SEIU.
Entre diferenças apontadas, há pontos em comum, como o fato da queda de postos de trabalho na indústria, berço nascente do movimento sindical de ambas as regiões. “O Brasil precisa focar mais na industrialização”, acrescenta Patah. “O PIB que era esperado fechar em 4%, não vai passar a 1,5% devido à falta de conhecimento no uso da tecnologia nas indústrias e uma juventude sem emprego. Nosso parque industrial está praticamente sucateado. Privilegiamos o consumo e exportação das commodities, agora devemos buscar um novo modelo de política macroeconômica e sem a austeridade europeia”, enfatiza.
“Nossa economia está cada vez mais sendo direcionada pelas corporações multinacionais de serviço. Infelizmente não temos negociação com as empresas, apenas com as sindicalizadas. Vamos mudar de estratégia, temos que ter um papel mais ativo, sermos mais barulhentos e não esperarmos as ações partir do governo de Barack Obama. Daí as greves que vêm acontecendo. A população cansou e está indo para as ruas por melhores condições. E precisa contar com o apoio dos sindicatos”, relata Tom Woodruff ao traçar um panorama da fragilidade que os trabalhadores norte-americanos enfrentam.
A desigualdade econômica é sentida tanto para os representantes dos trabalhadores da América Latina, como para os da América do Norte. Aqui a economia vem sendo bastante elogiada pelo crescimento, mas são muitos ainda que ganham precários salários. Vide os atuais R$ 645, considerado um salário de classe media no Brasil. Nos EUA, os problemas são as diferenças de renda e os impostos a pagar. “Qual a resposta que o movimento sindical tem dado para a crise?”, polemiza o Prof. Erledes, representante da Secretaria de Organização para Políticas Sindicais da UGT. “Nos últimos anos tivemos o maior lucro da história da República, viemos de uma economia de instabilidade, hoje estamos na 58ª posição mundial e em 84 no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), perdendo ainda para Argentina, México. É antagônico”, adverte o professor sobre a estagnação do movimento sindical, pedindo uma análise mais profunda da real situação.
Entre o cenário de crise, entra a questão da terceirização e a luta da UGT pela regulamentação do trabalho terceirizado, o que garante melhores condições e formalização do trabalhador na profissão. “Há a questão de cotas pactuadas entre trabalhador e o Ministério Público. Há a quantia que os filiados precisam pagar, mas os não filiados também se beneficiam da comissão e isso precisa ser revisto. É grande a interferência do órgão no estatuto de cada sindicato, e isso mexe com a organização sindical brasileira”, pondera o secretário de Finanças da UGT e presidente do Sindicato de Asseio e Conservação, Moacyr Pereira, uma vez que todo o trabalhador da limpeza não pode trabalhar na informalidade e a terceirização ainda é precária. “Precisamos trocar muitas experiências com os EUA”, acrescenta.
Para o secretário de Formação Sindical da UGT, Arnaldo Benedetti, é dada a hora de integração, “e isso só se faz através de intercâmbio de conhecimento”. Marcos Gimenez, secretário adjunto de Propaganda e Marketing Institucional da central, “este intercâmbio é muito importante. O problema do american-brother é nosso também. Se crescemos bastante, foi porque aprendemos muito com vocês. E o diferencial do jeito de fazer sindicalismo da UGT é porque preza por um sindicalismo cidadão, ético e inovador. A UGT olha para o trabalhador além do ambiente do trabalho, enxerga o seu habitat. Precisamos nos firmar na área de comunicação, porque precisamos mobilizar o trabalhador e a própria sociedade”.
Sidnei Corral, secretário de Integração para as Américas, levantou a questão que tem sido noticiada a respeito do movimento sindical americano da não renovação dos contratos dos trabalhadores, o trabalho das multinacionais pela desregulamentação das leis, possível favorecimento do governo e se há um rigor na fiscalização. “Hoje temos uma cobertura de -7% no setor privado. No setor público tem diminuído cada vez mais o número de contrato”, revelo Woodurff.
Urge a atuação conjunta com solidariedade. “São mais de 500 mil trabalhadores no Brasil empregados por multinacionais americanas. Os próprios brasileiros têm preferência pelas multis internacionais, devido às melhores condições de ganho. Vamos atuar em busca desse objetivo comum: o de todos serem favorecidos e termos uma visão de trabalho”, lembrou o secretário de Imprensa, Marcos Afonso de Oliveira.
Para Roberto Nolasco, assessor da secretaria de Finanças, a troca das informações deve ganhar relevância, daí, a importância da atuação do IAE da entidade. “A UGT criou o Instituto para sabermos quais os nossos problemas, formular políticas públicas para as necessidades que estão aí fora”, diz.
Entre as apresentações levantadas, o olhar para o social e não apenas sindical atraiu bastante a visão da delegação internacional. Fortalecer o movimento sindical e ponderar a visão da esquerda será um dos desafios traçados pela SEIU. “Queremos que ao menos 10% sejam representados pela luta social, nas ruas e em todo o país. Fizemos muito tempo nosso lobby interno. Precisamos sair, nos aprofundar. O paraíso ainda não foi encontrado, nem aqui, nem nos EUA. Temos que trabalhar mais e com este Instituto da UGT vamos poder realizar mais troca de informações. No tocante à limpeza, aprender com vocês como se organizar as organizações sociais. Com esse diálogo, há muito o que podemos fazer”, finaliza o representante da SEIU.